sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Qu'est ce que c'est?


- Quelle est votre plus grande ambition dans la vie?
- Devenir immortel... et puis mourir.



Jean Luc Godard

(Diálogo - About de Souffle)

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

as Imagens

ver imagem ver

ver sem ver sem ser
imagem ver imagina sem ver
imaginação sem ver
sem
sentir
sentir sem ver sentir
sem ser imagem
sem sentir imagem sentir
ser imaginação sem ser

ser

ser imagem.

Juliana Rego - Atriz


isso é um ponto, um ponto, um.
Camila Oliveira - Atriz
Sobre aquele domingo
No domingo à tarde, que tinha sol e tatame; uma quase tensão pelas respostas exatas.
O elevador, o porta-mochilas, o bilhete, a entrada de vidro, as prateleiras e as buscas. Isso trazia recordações reais, mas que eu, de verdade, nunca tinha vivido. Fantasmas da memória. Tudo tão convincente. Não deu pra dividir a linha da ilusão, da nostalgia, do passado, da tentativa de real. Foi uma perspectiva do tempo no tempo. Creio haver conseguido, com o espanto e a delicadeza, a uma imitação da rosa.
Eu havia, enfim, encontrado o que mais falta me fazia, a solução. Era uma caixa de peixe, intocável, pouco humana. (é preciso cuidado para lhe lançar os olhos, os dedos encapados ficam amarelos.) A solução para o sono do domingo estava embaixo de pequenas imitações e em seu rodapé dizia “Dictionnaire general du surréalisme et de sés environs” Me sorri com os jogos da boneca e as gelatinas de prata!
Isso foi apenas um transcurso do que a caixa de peixe ainda pode me dar.
Um surrealista anotou “Abra a boca como um forno. Dela sairão avelãs.” A gente quis dizer “ Entre no CCBB como uma coruja. Leve um esporro na sala de leitura. Daí sairá a distração elétrica da nossa memória.”

Mariana Rego - Atriz

quarta-feira, 21 de novembro de 2007


sábado, 17 de novembro de 2007

as disposições do Tempo

"O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é nosso melhor alimento; sem medida que o reconheça, o tempo é contudo o nosso bem de maior grandeza: não tem começo; não tem fim; é um pomo exótico que não pode ser repartido, podendo entretanto prover igualmente a todo mundo; onipresente, o tempo está em tudo; existe tempo, por exemplo, nesta mesa antiga: existiu primeiro uma terra propícia, existiu depois uma árvore secular feita de anos sossegados, e existiu finalmente uma prancha nodosa e dura trabalhada pelas mãos de um artesão dia após dia; existe tempo nas cadiras onde nos sentamos, nos outros móveis da família, nas paredes da nossa casa, na água que bebemos, na terra que fecunda, na semente que germina, nos frutos que colhemos, no pão em cima da mesa, na massa fértil dos nossos corpos, na luz que nos ilumina, nas coisas que nos passam pela cabeça, no pó que dissemina, assim como em tudo que nos rodeia..."


Raduan Nassar
Lavoura Arcaica

domingo, 11 de novembro de 2007


" Eu poderia chamar este livro de Falsas Memória. Não por querer contar intelectualmente uma mentira, mas porque o ato de escrever prova que não há, no cérebro, um congelamento profundo que armzene, intactas, as memórias. Ao contrario, o cérebro parece manter uma reserva de sinais fragmentados que não possuem cor, som ou gosto, e que aguardam o poder da imaginação para dar-lhes vida. Em certo sentido, isso é uma bênção.

Quando escrevo, não sinto a compulsão de dizer toda verdade. É impossivel, não importa o quanto se tente, penetrar nas obscuras áreas das motivações ocultas de alguém. De fato há tabus, dificuldades e áreas de obscuridade por trás dessa história que não exploro, e, com convicção, não sinto que relações pessoais, indiscrições, indulgências, excessos, nomes de amigos intimos, raivas privadas, aventuras familiares ou dívidas de gratidão - que por si sós poderiam preencher um livro comercial - possam ter lugar aqui, assim como os esplendores já conhecidos e os tormentos das estréias. Não tenho qualquer respeito pela escola de biografias que acredita que, se todos os detalhes sociais, históricos e psicológicos forem reunidos, surgirá, então, um retrato verdadeiro de uma vida. Longe disso, coloco-me ao lado de Hamlet, quando ele pede por uma flauta e protesta contra a tentativa de se perscrutar o mistério de um ser humano, como se fosse possível conhecer todos os seus refúgios e obstáculos."
Peter Brook," Fios do Tempo ".

sábado, 3 de novembro de 2007

Esta Ternura


Esta ternura y estas manos libres,
¿a quién darlas bajo el viento ? Tanto arroz
para la zorra, y en medio del llamado
la ansiedad de esa puerta abierta para nadie.
Hicimos pan tan blanco
para bocas ya muertas que aceptaban
solamente una luna de colmillo, el té
frío de la vela la alba.
Tocamos instrumentos para la ciega cólera
de sombras y sombreros olvidados. Nos quedamos
con los presentes ordenados en una mesa inútil,
y fue preciso beber la sidra caliente
en la vergüenza de la medianoche.
Entonces, ¿nadie quiere esto,
nadie?


Julio Cortázar

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terça-feira, 30 de outubro de 2007

a Realidade

" Já começava a ver e não sabia; vi desde que nasci e não sabia, não sabia.
Dá-me a tua mão desconhecida, que a vida está me doendo, e não sei como falar - a realidade é delicada demais, só a realidade é delicada, minha irrealidade e minha imaginação são mais pesadas."
" assim: como se me lembrasse. Com um esforço de 'memória', como se eu nunca tivesse nascido. Nunca nasci, nunca vivi: mas eu me lembro, e a lembrança é em carne viva."
" Vou criar o que me aconteceu. Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei que criar sobre a vida. E sem mentir."
(C.L.)

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